O retorno na passarela no Carnaval de 1984 e o Supercampeonato


Pesquisa: Raymundo de Castro.

Enredo: Yes, nós temos Braguinha
ENREDO: Yes, Nós Temos Braguinha.


O RETORNO


Nesta postagem, relatarei o que realmente aconteceu no desfile do carnaval de 1984, quando a Mangueira fez o retorno pela passarela que acabara de desfilar.

COMO FOI PLANEJADA A REALIZAÇÃO DESTE FEITO,
DESCONHECIDO POR MUITOS.

O ano de 1984 foi um ano marcante para o carnaval carioca, destacando-se a inauguração do sambódromo e a realização de um supercampeonato para definir a campeã oficial do carnaval.

O SAMBÓDROMO.

O governador Leonel Brizola ao assistir o desfile das escolas de samba, concluiu que a beleza do espetáculo merecia um local mais amplo e confortável para o público que o assistia e convidou o arquiteto Dr. Oscar Niemeyer para projetar a construção de uma passarela digna deste espetáculo, em lugar da existente. Entregou ao professor Darcy Ribeiro a supervisão desta obra.

Para que ela não fosse somente utilizada durante o período de carnaval, Niemayer projetou os camarotes para que, após o carnaval, eles pudessem ser aproveitados como salas de aula, transformando-os em um CIEP, e no final da passarela solicitou que fosse feita uma praça, que o Darcy batizou de “Praça da Apoteose”.

Nota: O sambódromo foi construído em 4/5 meses.


PRAÇA DA APOTEOSE:
Praça da Apoteose, desfile da Mangueira em 1984

No conceito do professor Darcy Ribeiro, haveria uma apoteose na qual, os carros alegóricos dariam uma volta e ficariam parados e os componentes sambariam entorno dos mesmos, dando voltas sambando e exibindo-se para os turistas.

Só que ao expor as suas ideias para as empresas de turismo, elas acharam que não era interessante fazer o desfile para os turistas na praça. Alegando que os turistas queriam ver a evolução das Escolas em toda a extensão da passarela, assistindo o desfile do início ao fim.

Mas mesmo assim, o professor insistia em que todas as Escolas fizessem a exibição apoteótica e se não o fizessem perderiam pontos, em “Harmonia” e “Conjunto”.
Pedro Paulo Lopes
Pedro Paulo Lopes.
Foto do acervo de Maria Helena A. Viera.

Na época, Pedro Paulo (secretário da Escola e coordenador da Comissão de Carnaval da Mangueira) participava da equipe que assessorava Darcy Ribeiro na construção do Sambódromo, então, ele chegou para o Professor Darcy e disse:

“Professor, a praça é pequena, como é que nós vamos fazer isso?... Aquele espaço ali vai dar pra enfileirar seis alegorias?... Como é que vai ser feito?”. Então Darcy respondeu: “Não, o espaço lá vocês se viram! Vocês é que são donos do espetáculo, sabem o que fazer!”.

O Pedro Paulo continuou argumentando:

“Professor, esta volta na Apoteose vai ser uma coisa demorada... tem os imprevistos, pode ter problema com os carros... o tempo é curto... tem os minutos que a Escola tem de cumprir, é o primeiro ano na passarela, aquela apoteose pode atrasar a Escola, não sabemos como vai ser...”.

E continuando com o seu depoimento, Pedro Paulo me afiançou, que graças a uma reunião que teve com o Professor Darcy Ribeiro, aproximadamente três meses para o início do carnaval de 1984 e cujos participantes foram:

O representante da RIOTUR, Armando Aoab, Alcyone Barreto (Presidente da Associação das Escolas de Samba) e os representantes das Escolas de Samba:
Mocidade de Padre Miguel; Paulo de Andrade.
Portela; Nésio Nascimento.
Mangueira; Pedro Paulo.

Nesta reunião o Pedro Paulo questionou o tempo do desfile para as Escolas, convencendo o Professor Darcy Ribeiro que não fosse levado em consideração o tempo para o desfile das Escolas de Samba, pois se tratava de inauguração da Passarela do Samba, um espaço novo, e mais, não seriam dez Escolas a desfilar em um só dia e sim, 14 para dois dias de desfile. Colocando este argumento em votação, o pedido foi aceito.

Pensando no que foi decidido na reunião, Pedro Paulo chegou a seguinte conclusão:

Fazer o desfile como o Darcy Ribeiro queria, e por ser a Mangueira a última a desfilar, daria uma volta na Apoteose com os carros alegóricos, entraria na passarela e retornaria, voltando com o desfile em direção à concentração e não falou sobre a sua ideia com ninguém.

Maria Helena Abrahão Vieira.
Destaque do Grêmio por muito tempo.
Vencedora do Estandarte de Ouro de 1984.

Ao chegar em casa, não conseguindo conter a ansiedade, acordou a sua esposa Maria Helena Abrahão Vieira, e disse:

“Estou com a ideia da Mangueira ir até a apoteose, fazer a exibição e retornar desfilando rumo à concentração”. Ela espantada respondeu: “Você tá maluco?!...” E ele rindo disse-lhe: “- não, não, isso vai dar certo, pode contar!... vamos ficar sambando lá igual uns bobos na Praça da Apoteose, todo exprimido lá, procurando um espaço?!... vai dar certo.”.

Uns dois dias antes do desfile, ele falou com o Dr. Alcyone Barreto e procurou o Robson (Diretor da Bateria) e disse: - Robson, nós vamos voltar.

Procurou também o Xangô, que ao tomar conhecimento, espantado rebateu: - isto vai dar errado! (Xangô era Diretor de Harmonia, ele e o Alberto Pontes) e Pedro Paulo irredutível na sua decisão, sentenciou: “vai dar certo, sim.”.

Na hora do desfile, o Milton Gonçalves foi para o microfone e fez um discurso acalorado, anunciando a Escola e disse que a Mangueira ao chegar à apoteose, voltaria.

Foi ai que a Escola ficou sabendo que a Mangueira ia voltar.

Um fato interessante e que ninguém esperava:

No momento da volta, a Escola ia passando e logo atrás, os espectadores desciam em massa para a pista, acompanhando a Escola, cantando e sambando até o fim do retorno.

Foi um sucesso estrondoso! Todos comentavam o feito e nós pasmos, não estávamos acreditando no que estava acontecendo diante dos nossos olhos e ficamos arrepiados de emoção. Foi um momento inesquecível!

Eugenio Agostini comenta o que viu na Passarela do Samba:


Nota: E-mail publicado com a autorização do remetente.


ALA DA BATERIA
Diretores da Ala da Bateria:
Robson Roque e João Lopes de Magalhães filho.
1º Mestre de Bateria
Ailton Jarbas Ferreira (Ximbico).

NOTA:
Com o falecimento do Mestre Waldemiro em 12 de Junho de 1983, por sua recomendação em vida, a Mangueira levou para avenida como seu substituto, Aílton Jarbas Ferreira (conhecido como Ximbico).

Nascido e criado em Mangueira, filho do Ex-Mestre-Sala Arílton e da Pastora Marly. Iniciou sua carreira na Bateria Mirim, se destacando como um exímio ritmista, além de um ouvido apuradíssimo para a música.

Em seu primeiro ano como mestre de bateria, Ximbico comandou uma bateria com mais de 300 ritmistas, número incomum na época.

Além do Ximbico, tinham mais dois Mestres de Bateria:
Taranta (Jorge Costa de Oliveira) e Birinha (Ubiraci de Oliveira).


O SUPERCAMPEONATO.
ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA. PRIMEIRA E ÚNICA SUPERCAMPEÃ DO CARNAVAL CARIOCA DE 1984.


As Escolas de Sambas desfilaram em dois dias distintos, com classificações em separados:

Domingo, 03 de Março, Campeã: Portela.

Segunda, 04 de Março, Campeã: Mangueira.

O título definitivo do Supercampeonato foi definido no Sábado 09 de Março, nos desfiles das Campeãs.

Para montar este desfile, foram escolhidas as três primeiras colocadas de cada dia de desfile e mais duas primeiras colocadas do Grupo 1B, ficando na seguinte disposição:

No dia 03:
Portela, Império Serrano e, Caprichosos de Pilares.

No dia 04:
Mangueira, Mocidade Independente e Beija-Flor.

Grupo 1B:
Unidos do Cabuçú e Acadêmicos de Santa Cruz.


O DESFILE DAS CAMPEÃS:
Desfile das Campeãs

RESULTADO DO DESFILE DAS CAMPEÃS:

O Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação de Mangueira:
Com 139 pontos. 1ª Colocada. Enredo: Yes, nós temos Braguinha.

Portela:
Com 137 pontos. 2ª Colocada. Enredo: Contos de Areia.

Mocidade Independente de Padre Miguel:
Com 128 pontos. 3ª Colocada. Enredo: Mamãe, Eu Quero Manaus.

Consagrando-se a Mangueira:
Supercampeão do Carnaval de 1984.


Foto do acervo de Sammartino / Parte da Diretoria:
Raymundo, Pedro Paulo. Jairo. Terezinha. Sammartino. Lomelino. Danilo. London. Warldir Sargento.

FICHA TÉCNICA:
PRESIDENTE DA ESCOLA: Djalma dos Santos.
VICE-PRESIDENTE: Manoel Nunes Areais (Manolo).
SECRETÁRIO: Pedro Paulo Lopes.
TESOUREIRO: Raymundo de Castro e Danilo London.
MESTRE-SALA: Hégio Laurindo da Silva (Delegado).
PORTA-BANDEIRA: Rivailda Nascimento de Souza (Mocinha).
DIRETOR DE HARMONIA: Olivério Ferreira e Alberto Pontes.
CARNAVALESCO: Max Lopes.
INTÉRPRETE: José Bispo dos Santos (Jamelão).


ASSESSORES DE DARCY RIBEIRO:

Pedro Paulo Lopes,
Nésio Nascimento,
Paulo de Andrade.


COMISSÃO DE CARNAVAL:
PRESIDENTE: José Petrus (Zinho).
COORDENADOR: Pedro Paulo Lopes.
MEMBROS: Sandro Moreira.
Sabino Barroso.
José Leal.
Olivério Ferreira (Xangô).

AUTORES DO SAMBA ENREDO:
Jurandir, Comprido, Jajá, Arroz, Alvinho e Hélio Turco.


CARNAVAL DE 1984 - CARNAVALESCO MAX LOPES.

Max Lopes projetou as fantasias apresentando diversos tons de rosa, fazendo um mar de rosas em todo o desfile, com fantasias bem elaboradas, com trajes que remetia a “Belle ´Époque”, maravilhando público e jurado com uma bela apresentação, o que me fez lembrar os carnavais apresentado por Roberto Paulino nos carnavais de 1959 a 1961, com figurinos e alegorias feitos por Darque Dias Moreira (Sinhôzinho), que abusou dos diversos tons de rosa, da cintura pra cima e do verde em diversos tons, da cintura pra baixo.

Max comenta que foi a partir deste carnaval de 1984 que passou a ser chamado, “Mago das Cores”.


CURIOSIDADES:
1- A Portela realizou um grande e belíssimo carnaval, homenageando Clara Nunes, Paulo da Portela e Natal. Reivindicou ser Campeã do carnaval, por ter sido a 1ª colocada na Domingo.

A Mangueira, também, reivindicou o título de Campeã por ter sido a 1ª colocada na Segunda-feira.

2- Se manteve sobre grande sigilo, o retorno da Mangueira após o desfile, para que não servisse de inspiração para a última Escola a desfilar no Domingo.

3- Pedro Paulo no seu depoimento, nos disse, que o Professor Darcy Ribeiro ao se referir aos Carros Alegóricos, denominava-os de “Carruagens” e a exibição dos componentes das Alas de “"trotar”. Após ouvir diversas vezes que:

“Os componentes das Alas vão “trotando” em volta das “Carruagens””. Pedro Paulo intrigado com aquele modo de expressão, disse-lhe:

- Professor, o sambista não trota, quem trota é cavalo! O Professor percebendo a falha, disse-lhe: - É mesmo... eu me enganei!.. Não é carruagem, é Alegoria mesmo!”. Então o Pedro Paulo acrescentou: - São Alegorias e eles vão sambando e não trotando. O Professor ria da confusão feita por ele mesmo.



O RETORNO NA PASSARELA NO CARNAVAL DE 1984 E O SUPERCAMPEONATO
Pesquisa: Raymundo de Castro.
COLABORARAM:
Maria Helena Abrahão Vieira.,
João Lopes Magalhões Filho (João Cuica).






Cesar Romero e Raymundo Baluarte da Mangueira Mauro Alburquerque Baluarte Gerson Sammartino
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