Dona Efigênia



Em pé: Dona Efigênia e moradores do Morro.
Sentados: Ministro Barros Barreto e Pedro Balbino.


Efigênia Balbino possuía uma “Tendinha” que ficava perto do “Largo do Careca” em caminho do “Largo do Sossego”, ainda não existia a igreja. A parte da frente da “Tendinha” era toda escorada com madeiras, mas era de uma limpeza impecável!

Ela fazia uma “batida” muito especial e um angu, que era muito conhecido e divulgado por quem o comia. Hermínio Bello de Carvalho em uma entrevista, online, concedida a uma revista (não me recordo o nome da revista), cita que “em suas andanças pela Mangueira em visita a Neuma, Cartola/Zica, Carlos Cachaça e Menininha, não deixava de visitar a “Birosca” da Dona Efigênia”.

Eugênio Agostini Netto ao reatar contato comigo, após anos de ausência, uma das primeiras perguntas que me fez, foi se "ainda existia o Bar da Dona Efigênia e o bar, Só Para Quem Pode".

O Embaixador Negrão de Lima comparecia esporadicamente para saborear o famoso angu. Eu era jovem e lembro-me tê-lo visto trajando um "Summer rosa", numa destas visitas. Esta imagem ficou em minha memória.

O Ministro Barros Barreto além de ser um grande amigo da Efigênia, foi visitá-la diversas vezes em sua casa no Buraco Quente.


Registro das visitas do Ministro a residência de Efigênia,
em fotos cedidas pela família.

Ela era casada com Pedro Balbino, o “Seu Pedro”. Era uma mulher decidida, enfrentava tudo e qualquer situação, ao contrário do esposo, que era uma pessoa calma e conciliadora.

Ela tinha um conhecimento fabuloso com os médicos da Santa Casa e com isso, auxiliava a muitos moradores da Mangueira a se internarem neste hospital (Este conhecimento era devido ao seu tempero famoso, que por conta dele, era convidada a fazer a comida das suas festividades).

Ao falar da “Tendinha” escorada, esclareço aqui, o por que: ela tinha um litígio com o pressuposto dono do imóvel, e não consertava a “birosca” de propósito, para que não fosse obrigada a devolvê-lo. Na época eu não entendia os seus argumentos, mas, os aceitava.

O seu rigor na limpeza era tanto, que instituiu um cartaz manuscrito pendurado no teto, em que advertia: "É PROIBIDO CUSPIR NO CHÃO. QUEM CUSPIR PAGA MULTA DE 20 CRUZEIROS" (o amigo Agostini no seu E-mail, me avivou a memória e eu possuía uma foto da “Tendinha” com este cartaz, porém, não a encontrei), e mais, toda e qualquer pessoa que pretendesse entrar no seu estabelecimento apresentando um teor alcoólico elevado, dependendo do grau, ela não o servia, ou era expulso sem cerimonia (existem muitas "estórias" sobre este assunto, cada um sabe de um "causo" a respeito). 

Assim que fiz a publicação desta postagem, o Eugênio Agostini entrou em contato comigo por E-mail, narrando um fato presenciado por ele na “Buteco” da Dona Efigênia, que com a sua permissão, o transcrevo na íntegra:

Querido Raymundo,
Uma passagem de Dona Efigenia e Nelson Cavaquinho, presenciada por mim:

Estávamos sentados no Buteco da Efigenia, Nelson Cavaquinho, eu e um terceiro,
que eu não me lembro. De repente o Nelson deu uma cusparada no chão.
Dona Efigênia, de dentro do balcão, falou bem alto, Ô Nelson!

Nelson imediatamente virou-se para ela e a viu silenciosamente apontando
para um cartaz que dizia "É PROIBIDO CUSPIR NO CHÃO. QUEM CUSPIR
PAGA MULTA DE 20 CRUZEIROS", o Nelson imediatamente chamou a menina
que servia e deu uma nota de 50 cruzeiros e voltou a tocar violão.

Pouco tempo depois volta a menina com o troco de trinta cruzeiros.
Diz Nelson "pode guardar o troco porque eu vou cuspir mais vezes".

Abra;cos
Eugenio

Na Mangueira nesta época, só existiam três telefones, um no armazém do meu pai, um na casa da Neuma e o outro, na casa de Dona Efigênia.

Havia muito espaço vazio sem construção no morro, nestes espaços os moradores aproveitavam para fazer de tudo, desde área de lazer, como o "Esporte Clube de Malha São José" e suas duas extensas pistas de jogos, até a criação de galinhas e porcos. Estes animais eram criados em cercados, ou soltos, e Dona Efigênia além de possuir a “Tendinha”, nos fundos do quintal, criava porcos.

Possuía a Matrícula de Sócio nº 03. Nesta época, existiam duas categorias de sócios: masculino e feminino, com suas respectivas numeração.


Participava muito ativamente do Grêmio e Presenciei muitas vezes, ela conversando e discutindo na entrada do Buraco Quente com Pedro Palheta, Hermes Rodrigues, Marcelino e outros... Eu trabalhava no armazém do meu pai, e de lá, era testemunha ocular de muitos acontecimentos, inclusive, este.

Por conhecer meu pai e minha mãe, ela tinha um carinho muito especial por mim, quase de filho. Na minha adolescência, quando tive um problema sério de saúde, ela foi uma das minhas enfermeiras, fazia suco de saião e me obrigava a toma-lo, diariamente. As injeções eram aplicadas por Dona Maria da Injeção (Dona Maria Augusta Gonçalves)

Dona Efigênia Balbino Foi uma mulher muito marcante e respeitada na Mangueira. Participou ativamente da vida da Comunidade e da Escola de Samba Estação Primeira, e não pode ser esquecida!


Marecilda, Luzia Maria Caetano (sobrinha-neta de Dona Efigênia) e Derly.


FATO CURIOSO SOBRE A CRIAÇÃO DE PORCOS NO MORRO:

Como já foi dito antes, muitos moradores eram criadores de porcos e a quantidade era tanta, que caminhões passavam na Rua Visconde de Niterói, que era estreita e de paralelepípedo, davam uma parada rápida e capturavam alguns, jogando em cima do caminhão e indo embora,. Numa agilidade impressionante!

Furtavam sem sacrifício, devido a quantidade de porcos que vagavam pelas ruas.



DONA EFIGENIA




Cesar Romero e Raymundo Baluarte da Mangueira Mauro Alburquerque Baluarte Gerson Sammartino
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